A Jornada do Guerreiro: A dor da Existência em Berserk e Vagabond

O mais difícil não é vencer o inimigo — é encarar quem você se tornou depois da luta.

Os seinens Berserk e Vagabond já conquistaram o coração de fãs no mundo inteiro — e não é à toa. São obras visualmente impressionantes, com personagens marcantes e cenas de tirar o fôlego. Mas… você já parou pra pensar o que tem por trás dessas histórias tão profundas?

Guts e Musashi não lutam apenas com espadas. Eles lutam com dores e cicatrizes do passado que parecem nunca curar, com a constante sensação de estarem quebrados por dentro e se sentirem perdidos

Enquanto Guts enfrenta monstros externos e internos em um mundo dominado pelo caos, Musashi se perde em reflexões e silêncios, tentando entender quem é de verdade, longe da fama e da guerra. Ambos vivem cercados de sangue, mas o que mais grita nas suas histórias é o que eles sentem quando ninguém está por perto.

Esse post te leva a refletir além das lutas e dos erros desses protagonistas tão marcantes na história dos mangas, mas entender que a dor é externalizada de formas diferentes nas pessoas e que mesmo em meio ao silêncio gritante dentro deles e aos olhares carregam mais dores do que mil guerras, eles continuam a lutar. Porque, no fim, Berserk e Vagabond não são apenas mangás sobre guerreiros — são histórias sobre a dor de existir.

Berserk – A luta contra o destino

Autor: Kentaro Miura
Publicação: 1989–2021 (incompleto, sendo continuado por seu assistente devido sua morte)

Apesar de ser lotado de violência e guerras, a historia contada em Bersek vai muito além disso. É um estudo sobre o niilismo e a busca incessante por significado em um mundo cruel. A história de Guts, um homem marcado por tragédias e traições, é uma jornada de resistência, não contra inimigos externos, mas contra o destino que parece querer esmagá-lo a cada passo.

Guts não é um herói comum. Ele não busca salvar o mundo, nem ser admirado. Sua personalidade fria e enigmática é resultado de uma vida de agonia e abandono, ele se vê sozinho por muita das vezes. Desde o nascimento — literal e simbólico — ele foi jogado num mundo que sempre quis destruí-lo. E isso o tornou duro, desconfiado e brutal.

A imensa e descomunal espada que o protagonista usa na sua jornada não é apenas um instrumento de guerra — é o reflexo da própria alma do portador. Carregada nas costas como uma extensão do seu sofrimento, a Dragon Slayer encarna o peso da dor, da solidão e das cicatrizes invisíveis que Guts carrega desde o primeiro suspiro.
Não foi forjada apenas em aço, mas em abandono, violência e resistência.

Vagabond: A Lâmina que Corta o Ego

Autor: Takehiko Inoue
(Baseado no romance “Musashi” de Eiji Yoshikawa)
Publicação: 1998–2015 (hiato)

A história de Miyamoto Musashi, um jovem samurai inspirado em uma figura histórica real, que embarca em uma jornada brutal e solitária em busca de se tornar o espadachim mais forte do Japão. Musashi parte em uma jornada marcada por sangue, dor e questionamentos, onde cada duelo não é apenas uma luta pela sobrevivência, mas um passo na tentativa de compreender o que significa, de fato, ser forte. No início, sua força nasce da fúria e do instinto. Mas conforme caminha, sua espada começa a encontrar resistência não só em outros guerreiros, mas nas próprias dúvidas que crescem dentro dele.

Musashi passa de um monstro de batalha a alguém que busca compreender o sentido da vida, o ego e a humildade. A obra mostra que lutar por poder pode ser instintivo, mas aprender a ouvir, a observar e a reconhecer os próprios limites exige coragem.

Vagabond fala sobre o peso das escolhas, o vazio que a força não preenche e a beleza de aceitar que nem toda resposta vem com a vitória. Às vezes, elas vêm no silêncio depois da luta, ou na sombra de uma árvore, onde o guerreiro descansa — não por fraqueza, mas por finalmente entender que a paz também é um tipo de vitória.

Por que ler Berserk e Vagabond hoje?

Em um mundo que parece cada vez mais acelerado e superficial, onde as respostas fáceis dominam, Berserk e Vagabond oferecem uma profundidade rara. Elas nos forçam a parar e refletir. Não há finais fáceis ou heróis perfeitos. Em vez disso, encontramos personagens profundamente falhos, que enfrentam não apenas inimigos externos, mas os próprios fantasmas internos.

Eles nos ensinam através da dor e que ela é inevitável e faz parte da jornada. Mas também nos mostram que desistir não é uma opção. O que realmente importa é como escolhemos lidar com essa dor.

Em uma sociedade frágil emocionalmente, que desiste quando as coisas complicam e se entrega ao caos como se o sofrimento fosse o fim da linha, Berserk e Vagabond aparecem como um soco de realidade. Que se render ao problema como se não houvesse alternativa é ignorar a força silenciosa de quem continua, mesmo quando tudo dentro diz pra parar.

Parar no meio da estrada não faz com que os fantasmas desapareçam. Fingir que não dói não acelera a cicatrização. A dor, quando ignorada, não some, ela se acumula. O sofrimento só se transforma quando a gente decide agir. É preciso esforço pra mudar, pra encarar o que machuca mesmo que isso doa e humilhe.  Mudar exige disciplina e foco, exige coragem para lutar e admitir o erro. Porque aceitar a dor não é o mesmo que se render a ela — é o primeiro passo pra seguir em frente.

Eai, vai fugir ou encarar?

BY: Duda Ortiz : )

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